A falta de respeito acontece quando somos colocados como números estáticos no período eleitoral
A falta de equidade religiosa e tolerância são os desafios para promoção de uma sociedade mais justa e sem privilégios. Cá do meu canto, entre pesquisas e ações sociais em prol da liberdade religiosa, volta e meia me deparo com casos e situações que nos deixam da distantes da construção e promoção de uma sociedade mais justa.
Na semana em que celebramos o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa (21 de janeiro), diversos casos de intolerância e falta de equidade religiosa aconteceram em várias partes do país.
Na cidade de Olinda, o centenário Terreiro de Xambá foi hostilizado e desrespeitados por membros da igreja Assembleia de Deus. Com faixas, carro de som, microfone e instrumentos os evangélicos se postaram em frete ao terreiro para realizar um culto durante as festividades que estava acontecendo no terreiro em homenagem a Obaluaiê.
Em Natal, o prefeito Paulinho Freire vetou o projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal que tem como objetivo instituir um processo de garantir isenção de impostos para templos de religiões de matriz africana que não são registrados como associações civis. Já na Bahia, a Secretaria de Serviços Públicos e Ordem Pública da prefeitura de Santo Amaro derrubou uma árvore sagra no Terreiro Ilê Axé Omorodé Loni Omorodé Oluayé.
No Rio de Janeiro a prefeitura liberou, em 2024, 950 mil reais para a realização do projeto Cariocão: Desbravando o Rio. Em 2025, liberou R$ 350 mil reais, via Secretaria Municipal da Casa Civil, para a realização do JA de Verão — ambos os eventos são promovidos pela Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Para a realização da festa de São Sebastião, 2025, liberou R$ 300 mil reais. Para a Festa de Iemanjá, 2025, que será realizada no dia 2 de fevereiro, a Coordenadoria de Diversidade Religiosa, ligado a secretaria da casa civil, comunicou aos organizadores que em 2025 não haverá “patrocínio” por parte da prefeitura para a realização do evento.
Quero aqui, ao expor os casos, chamar atenção para o tamanho da falta de respeito e equidade do poder publico com os religiosos de matrizes africanas.
A falta de respeito acontece quando somos colocados como números estáticos no período eleitoral. É conveniente para uns e outros usar os nossos símbolos e representações ligadas, às culturas negras, quanto somos identificados pelo número do título eleitoral. Entretanto, quando o “banquete” está sendo servido não somos convidados para festa nem muito menos contemplados com as poucas migalhas que caem da mesa.
A falta de equidade acontece quando não são dadas as mesmas oportunidades de acesso. Quando a desigualdade se faz presente dentro e fora dos espaços públicos e privados. Quando o privilégio religioso se torna uma moeda de troca para fins políticos.
Assim, compreendo que não podemos normalizar e naturalizar os privilégios religiosos como um modo cultural da administração pública brasileira. Afinal, o Brasil é país laico.
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